A Google anunciou esta semana que planeja atualizar a política de uso do seu programa de anúncios AdSense para evitar que publicidade distribuída por sua rede seja utilizada por sites com notícias falsas. Na mesma linha, o Facebook anunciou na segunda-feira que atualizou a política de uso da rede Audience Network, que distribui publicidade online em sites e aplicativos móveis, para explicitamente evitar notícias falsas.
As empresas, obviamente, acreditam que ao cortar fluxo de receita desses sites com anúncios podem contribuir para fazê-los desaparecer.
"De acordo com a política da Audience Network, nós não integramos ou exibimos publicidade em apps ou sites que exibam conteúdo ilegal ou enganoso, incluindo notícias falsas", anunciou a empresa em uma declaração pública. A rede social diz que sua equipe vai continuar a acompanhar de perto os publishers, vetando sites e assegurando-se de que os outros trabalhem dentro das regras.
"Nada é verdade"
As duas empresas correram para apagar um incêndio que ganha proporções cada vez mais preocupantes: o da distribuição de notícias falsas em sites e nas páginas de redes sociais, feitas muitas vezes com o objetivo direto de prejudicar empresas, pessoas ou eventos públicos.
O problema ganhou mais destaque após as recentes eleições presidenciais norte-americanas, em que diversos críticos e pesquisadores acusaram o Facebook de ter influenciado o resultado das eleições por conta de distribuição de conteúdo falso que não foi detectado por seu algoritmo.
As medidas anunciadas nesta segunda-feira (14/11) podem ser um começo, mas não vão conseguir de fato acabar com o problema, garantem analistas e especialistas em internet e mídia, e podem criar outro. Primeiro porque separar notícias "falsas e verdadeiras" não é uma coisa fácil, segundo admitiu o próprio Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, em um post sobre o problema das eleições dos EUA.
Segundo, porque o monitoramento dos sites de internet pela Google e Facebook e a aplicações de penalidades poderia dar a essas duas gigantes da internet ainda mais poder do que já possuem, diz Pranesh Prakash, diretor de políticas no Centro para Sociedade e Internet em Bangalore.
"Os movimentos de segunda-feira podem ser considerados um primeiro passo interessante, mas essas empresas precisam primeiro assumir suas responsabilidades - usar melhor pessoas e máquinas - para entregar notícias para os Estados Unidos e as democracias globais", escreveu o analista de mídia e escritor Ken Doctor em um artigo publicado no site NiemanLab.org.
Falso x verdadeiro
Enquanto o Facebook era acusado de ter contribuído para a eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos por causa da distribuição de notícias falsas, a Google teve seu momento "vergonha alheia" no domingo (13/11) quando uma história falsa afirmando que Donald Trump, teria vencido Hillary Clinton também no número de votos populares, ficou no topo da lista de resultados de algumas buscas no Google. A notícia é falsa pois Hillary venceu com uma diferença de mais de 1 milhão de votos na votação popular, apesar de ter perdido nos votos do Colégio Eleitoral.
"Estamos trabalhando para atualizar nossa política de publishers para proibir anúncios da rede Google a aparecerem em sites enganadores. Além disso, vamos restringir anúncios em sites cujas páginas não são claras ou são enganadoras quanto à real natureza do publisher, do conteúdo ou do objetivo do site", escreveu a Google em comunicado.
Mark Zuckerberg chamou de "malucas" as críticas que apontam o news feed do Facebook como tendo influenciado o resultado das eleições nos EUA a favor de Trump. "De todo o conteúdo do Facebook, mais de 99% do que as pessoas veem é autêntico. Só uma parte muito pequena são notícias falsas e boatos", escreveu Zuckerberg, argumentando que os boatos não eram ligados a um único partido, eventos ou políticos.
O problema, vamos concordar, é que 1% de conteúdo falso dentro do Facebook é um bocado de conteúdo.