Maria Dalbosco Hübner, 75 anos, aposentada,
viúva, reside na comunidade de Bom Jardim. Seu esposo com quem teve sete filhos
faleceu há 27 anos, e no ano passado seu segundo companheiro também veio a
falecer. Novamente sozinha, o "vazio" de sua casa continuou sendo motivador
para a humilde Senhora nunca perder a esperança de encontrar alguém que deixou
a sua vida há 68 anos: sua irmã.
Quando criança, Dona Maria morava
com a família na comunidade de Anto Bravo, em Lajeado. Como sua casa era
distante da escola e seus pais muito pobres, com filhos para criar, Dona Maria,
a filha mais velha, foi morar com outra família. Dos 8 anos 15 anos de idade,
desempenhou o papel de empregada doméstica e babá dos filhos da "nova família".
Realizava diversas tarefas de forma árdua. Certa noite, a família se mudou e
levou Maria junto com eles, deixando seus pais sem notícias suas e a moça de 13
anos, sem notícias de seus pais e seus irmãos.
Seguiu sua vida, trabalhou,
casou-se, teve filhos... residiu sempre no município de Nova Candelária, antes
mesmo de emancipar-se como tal. Contudo, o anseio de encontrar seus irmãos
sempre lhe acompanhou.
Em uma sexta-feira à noite, no
dia 1º de janeiro deste ano, Dona Maria foi fazer uma visita à casa de uns
amigos, na comunidade de Linha Brasil, Crissiumal. Lá, conversou com Aline
Dreher, neta dos amigos, que estava de férias no local e que trabalha na área
da saúde no município onde reside. A simpática senhorinha contou sua história e
a moça lhe ofereceu ajuda, dizendo que poderia pesquisar pelo nome de sua irmã por
meio do cadastro do SUS.
Em menos de 24h, o filho de
Maria, Seu Valmir, de 38 anos, foi até a casa da Mãe para dar a notícia: eles
haviam encontrado a irmã de Maria e ele já havia entrado em contato com a
mesma. "Eu chorei tanto quando meu filho me falou isso, mas logo sorri, porque
eu rezei tanto para encontra-la, eu pedia à Deus para iluminar meu caminho para
que eu encontrasse a minha irmã", conta Maria.
Feitas as malas, na segunda-feira
Dona Maria partiu com seu filho, sua nora e seu neto à procura de Leonilda
Scheibe, agora com sobrenome de "casada". Sabia que sua "mana" (assim
carinhosamente chamada por ela) estaria morando na Vila Stork, na cidade de
Forquetinha, próximo à Lajeado. "Chegando perto do local eu via as casas todas
bonitas, arrumadas, e uma hora eu vi uma casa tão linda, tão linda, e pensei
que gostaria tanto de morar nessa casa... paramos ali pra pedir informação e
era a casa da minha 'mana'".
O abraço do dia 4 de janeiro vai
marcar para sempre a vida de Maria e de Leonilda. "Depois desse dia eu sou mais
feliz, agora eu sou feliz, feliz, feliz... não sei nem dizer o quanto". O
momento do encontro está gravado em um vídeo, feito pelo neto. A ansiedade e a
saudade era tão grande que o choro e as palavras inacabadas tomaram conta das
duas. Se abraçaram tanto, como se fosse para recuperar todo o tempo em que não
se viram.
Dona Maria permaneceu por 8 dias
na casa da irmã. Foram ao restaurante,ao salão de beleza, visitaram parques...
em suas palavras, Maria argumenta "Aah, parecia que a gente 'tava' no programa
do Gugu. Tudo o que a gente fazia era como se fosse um sonho".
Nessas horas e dias de conversa,
Dona Maria descobriu que a irmã também trabalhava como empregada de uma família
até se casar. Segundo ela, Leonilda, com 75 anos, possui as pernas iguais as
suas, as mãos, os traços do rosto, o jeito de caminhar... "somos iguaizinhas, e
minha irmã também procurou a vida toda por mim, mas como nós duas tínhamos
trocado os sobrenomes, ficou mais difícil o encontro". Com muitos detalhes pra
contar, a sorridente mulher ainda acrescenta: "Nós quase não dormimos enquanto
eu estava lá. Eu pedi tanto à Deus que queria encontrar minha 'mana', fiz até
promessa'".
No dia 27 de março, na Páscoa,
Dona Maria viajou para Forquetinha com quatro filhos, onde junto com os filhos
de Leonilda, confraternizaram e celebraram o encontro das famílias.
Neste dia, mais uma surpresa
aguardava Maria: ela ia conhecer o irmão de 65 anos que ela nem sabia que existia,
pois quando foi embora de casa, ele ainda não havia nascido. Seu irmão reside
no Paraná e foi até Forquetinha para conhecer Maria.
Hoje, em contato com a irmã,
também soube que sua família biológica se mudou para o Paraná quando seus
irmãos ainda eram criança, e seu irmão, que era bebê quando Maria saiu de casa,
foi morto aos 24 anos. Seus pais também já são falecidos.
O próximo encontro das irmãs já
está marcado: Leonilda vai vir visitar a irmã do inverno deste ano e passar
alguns dias com ela em Nova Candelária. Com lágrimas nos olhos, a voz trêmula e
um sorriso no rosto, Dona Maria finaliza: "Eu só agradeço a Deus porque tudo o
que eu pedi, eu recebi. Este ano é só felicidade pra mim".